quinta-feira, 24 de junho de 2010

Meu amigo Frankenstein

Não há vento. Nada faz as árvores acordarem, nem mesmo o orvalho fazendo cócegas ao rolar sob suas folhas em gotas. O céu está limpo e a lua se mostra no ápice de sua luminosidade. De incômodo só esses meus dedos de juntas debilitadas e castigadas pelo frio que ao cair da noite empurra as pessoas para debaixo de suas cobertas e as privam de desfrutar desse espetáculo que é o luar. O encantamento da lua é só para os inquietos notívagos. Então vamos meu amigo, não me olhe com essa cara desolada. Anime-se. Não se preocupe com a falta de amor ou com o excesso de solidão. Ora, beba mais um gole, e esqueça o dia. Saúde a noite. Não me diga que não és digno desse momento. Não, não suspire, deixe-me dizer-lhe uma coisa. Há algo de ruim em todos nós, sempre há o que faz nos envergonharmos de nós mesmos de um modo ou de outro. Todos nós sabemos onde vivem os monstros. Os seus estão do lado de fora. Os meus levo aqui dentro comigo. Mesmo assim buscamos viver a ilusão da felicidade. De certa forma, aberrações à parte, somos iguais. Nesse ideal utópico, esquecemos do que há a nossa volta. Por isso insisto meu velho, beba mais um gole pra aquecer e veja o quanto perdem aqueles que repousam agora para buscar a felicidade amanhã. Eu posso desconhecer teus anseios, e você pode desconsiderar tudo o que eu disse. Mas por favor, não despreze o que há em sua volta. É muito mais do que qualquer um de nós possa merecer. Dentro, todo coração queima. Então, enquanto eu me espremo em meu casaco e aperto meus dedos no fundo dos bolsos, ao menos balance a cabeça e me conte outra história. Finja que me compreende. E eu finjo que todas essas divagações são verdade. Afinal, um pouco de compreensão, calor e fantasia, não são o bastante para fazer um homem sentir-se feliz por uma noite?