domingo, 12 de julho de 2009

Ferrorama

Eu poderia dizer que é uma noite como outra qualquer. Que é mais uma noite que acaba em vinho barato e guitarras estridentes nos meus pequeninos alto-falantes. Mas não é. Eu prefiro dizer (iludir) que estou quebrando uma rotina com outra rotina. Eu estou quebrando a rotina de terminar as noites em vinho barato e guitarras estridentes nos alto-falantes em dias de semana, com a rotina de acabar as noites em vinho barato e guitarras estridentes nos alto-falantes em finais de semana. Essa última frase ficou confusa e parece não ter sentido algum. Mas tem. Nos finais de semana eu posso escrever, ler, ver, ouvir ou vegetar no horário em que todos vão visitar o sonhar. Não preciso ter a preocupação de ter de acordar no outro dia e cumprir com os eventos sociais obrigatórios de todo o cidadão que não é milionário e vive no país do futebol. Não entenda mal, não estou chorando as pitangas aqui. Não é o meu feitio. Eu já saquei há muito tempo como funcionam as coisas. A vida é como ganhar um ferrorama. Antigamente ter um ferrorama em casa era um luxo para poucos. O cara sonhava mil e uma possibilidades com o trenzinho. Quando o guri ganhava o dito cujo, tirava da caixa enorme e montava segundo o manual. A graça terminava em menos de um mês. Porque toda a dinâmica do brinquedo fica restrita ao desenho do percurso dos trilhos. Ai o guri de saco cheio querendo mudar o trajeto do trem, invertia as peças dos trilhos. O que geralmente não acabava bem. E é isso que acontece quando escrevo. Eu esqueço o manual e tento inverter os trilhos. Vendo de longe pode parecer que eu sou um daqueles caras com mil e uma experiências edificantes sobre a vida para contar. Não se engane. Esse não sou eu. Pouco sei sobre a vida. Mas o que coloca em dúvida a minha analogia sobre o ferrorama não é isso. É o fato de que eu nunca tive um ferrorama. Sequer morei perto de alguém que teve um. No tempo do ferrorama eu jogava taco. Poderia ter feito uma analogia sobre o taco. Mas sobre jogar taco eu só tenho a dizer uma coisa: É terrivelmente emocionante.

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