sexta-feira, 5 de junho de 2009

Currículo Literário

Eu sempre travo quando vou falar sobre mim para estranhos. Naquele pequeno momento entre a frase "Pessoal vamos fazer silêncio, com a palavra o Fábio, que vai nos falar um pouco sobre ele" até o momento em que começo falar ocorre uma concentração monstruosa pra eu poder me fazer entender. E isso toma ares de tragédia quando tenho de responder à pergunta: "Diga-nos qual é a sua escola literária?" ou "O que te levou a escrever essas coisas todas?".Naqueles segundos de silêncio me vem a mente tudo, ou melhor, quase tudo o que poderia ser minha escola literária.Lembro das noites em que via Beethoven socando o teclado do meu computador porque a tecla Ctrl trava as vezes e ele não consegue tirar o som ideal dela.Alan Moore fica sentado à direita da minha cama me olhando e acariciando a vasta barba com sua mão crivada de anéis. Ele me dá medo.Dostoievski e Alan Poe jogam dados em um jogo que Neil Gaiman acabara de inventar, e ele mesmo serve a dose de vodka para quem perder o jogo.Tem um louco tocando baixo no meu roupeiro, e as vezes ele até canta Engenheiros do Hawai e Sonic Youth, mas na maioria das vezes ele fica só cantarolando. Charles Bukowski fica desenhando cavalos nas paredes enquanto Jack Kerouack jogado no chão fica revirando os olhos com um sorriso idiota no rosto. Geralmente dá briga quando as musas de Frank Miller aparecem.As criaturas que habitam as profundezas das escrituras de Tolkien urram debaixo da minha cama as vezes, mas só as vezes.Nessas noites eu vou puxando a minha coberta devagarinho sobre meu rosto e depois de estar coberto eu espicho a mão pra apagar a luz. Eu luto pra pegar no sono antes que apareçam os malditos heróis da Sessão da Tarde. Se Ferris Bueler chegasse a aparecer ninguém mais dormiria.
E então eu respiro fundo depois desses segundos de divagações e opto por dizer outra verdade, uma mais coerente. O fato é que eu já criava histórias antes da minha mãe me ensinar a ler e escrever, e agora resolvi escrevê-las para os outros lerem.Certamente isso não é o que se pode chamar de currículo literário, mas esses caras do meu quarto moldaram o que sou hoje. E isso também não quer dizer muita coisa.Só não quero que eles saiam de lá.Embora eu ainda tenha medo do Alan Moore.

3 comentários:

  1. Hey, adorei!
    E eu queria muito Ferris Bueler no meu quarto cantando adoidado.
    A-doro.

    Agra sabe o que eu acho?
    Somos influenciados pelo mundo que nos cerca, e essa história de escola litarária é conversa pra boi dormir.
    Minha escola?
    Nenhuma.
    Pulei o muro dos fundos e me mandei das aulas, a tempo de me salvar, hahaha.

    Abração!
    ;)

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  2. "Pulei o muro dos fundos e me mandei das aulas, a tempo de me salvar"
    Perfeito.

    Save Ferris

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  3. A - D - O - R - E -
    IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII,bom
    saber que teve iniciativa de expor seus contos,de continuar fomenando
    esse dom,bahhhhhhhh (de verdade) não sei como expressar o qnto fiquei
    feliz (aliás tbém não entendi,tamanha empolgação,mas sinto assim,
    acredito que tens mto taleto e potencial...)chega de
    mimimimimimi...huahauahua,forte abração.

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